Numa reviravolta jurídica significativa, o Tribunal de Apelação de Montenegro emitiu uma decisão em 7 de fevereiro de 2024, anulando a decisão anterior do Tribunal Superior de Podgorica relativa à extradição de Laboratórios Terraform fundador Hyeong Do Kwon.
A decisão do tribunal foi anunciada em um Comunicado de imprensa publicado em 8 de fevereiro. O caso, marcado pelo interesse internacional tanto da República da Coreia do Sul quanto dos EUA, foi devolvido à primeira instância para novo julgamento e decisão.
Violações do processo penal
A decisão do Tribunal de Apelação veio após considerar um recurso dos advogados de defesa de Kwon contra a decisão do Tribunal Superior de 29 de dezembro de 2023.
O Tribunal Superior concluiu inicialmente que os requisitos legais para a vida de Do Kwon extradição à Coreia do Sul para enfrentar acusação por múltiplas acusações criminais foram cumpridas. O tribunal também notou o interesse dos EUA no assunto, com a mídia especulando que ele seria enviado para os EUA no momento.
Contudo, o painel de recurso identificou “violações significativas das disposições do processo penal”, citando especificamente questões relacionadas com a clareza, fundamentação e abrangência da decisão do Tribunal Superior.
De acordo com o tribunal, a decisão de primeira instância não respeitou devidamente o procedimento de extradição abreviado descrito no artigo 29.º da Lei sobre Assistência Jurídica Internacional em Matéria Penal, que confere poderes ao tribunal – e não ao Ministro da Justiça – para decidir sobre casos de extradição. .
Além disso, o tribunal não determinou de forma inequívoca a sequência em que os pedidos da Coreia do Sul e dos EUA foram recebidos. Esta sequência é crucial nos termos do artigo 26.º da mesma lei quando a extradição de um indivíduo é solicitada por vários países.
A decisão do Tribunal de Recurso destaca a complexa interação dos princípios jurídicos nacionais e internacionais, especialmente em casos que envolvem múltiplas jurisdições. A decisão de anular a decisão de extradição e devolver o caso para novo julgamento mostra a importância da clareza processual e do cumprimento das normas legais.
Implicações
O caso de Do Kwon traz à tona a natureza complexa dos processos internacionais de extradição, que muitas vezes envolvem negociações diplomáticas delicadas e a aplicação de diversos sistemas jurídicos.
O Montenegro, um país que procurou alinhar o seu quadro jurídico com as normas internacionais, especialmente nas suas aspirações de adesão à UE, encontra-se numa encruzilhada de considerações jurídicas, diplomáticas e éticas significativas.
Os tratados de extradição e as leis de assistência jurídica internacional destinam-se a facilitar a cooperação entre os países na repressão de infracções penais, assegurando ao mesmo tempo a protecção dos direitos dos indivíduos. O equilíbrio entre o cumprimento das obrigações internacionais e a salvaguarda dos direitos individuais é um desafio constante nos casos de extradição.
Historicamente, casos de extradição como o de Kwon testaram a resiliência dos quadros jurídicos e a integridade dos processos judiciais no Montenegro e noutros países. Destacam a necessidade de transparência, devido processo e adesão às normas legais para manter a confiança do público no sistema de justiça e nas relações internacionais.