Por ano, o município de São Paulo registra cerca de 2.000 quedas de árvores urbanas – excluindo parques públicos e áreas de proteção ambiental. Neste ano, durante as chuvas que atingiram a região metropolitana nos dias 8 e 9 de janeiro, quando os ventos atingiram 94 km/h, o Corpo de Bombeiros recebeu cerca de 250 chamados para ocorrências desse tipo.
Os dados são resultado de uma pesquisa publicada na revista científica “Urban Forestry & Urban Greening”, que usou como base os dados de 456 árvores que caíram na área sob jurisdição da Administração Regional da Sé.
O estudo contou com oito bairros: Sé, República, Bom Retiro, Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Liberdade e Cambuci – que estão entre os mais antigos e verticalizados da capital.
Neste sábado (13), a árvore cai em cruzamentos da rua Coronel Oscar Porto com a rua Manuel da Nóbrega, no bairro Paraíso, na cidade de São Paulo. (Reprodução: Veronica Schneider, da CNN)
Em novembro de 2023, mais de 2 milhões de moradores moraram sem luz, alguns por dias, após o rompimento de acontecimentos provocados pelo mesmo problema.
Considerada um “hotspot” de queda de árvores na cidade de São Paulo, região central que concentra a maior proporção desse tipo de ocorrência em toda a capital.
O estudo mostrou que, entre os principais fatores associados ao problema e que podem ser usados como causadores estão o estado da madeira, o estrangulamento da raiz pelas calçadas e as podas drásticas.
“Como a região central tem características muito semelhantes aos de outros distritos da capital, entendemos que os resultados da pesquisa podem ser aplicados na cidade toda. Para outros municípios, dependerá da qualidade dos dados disponíveis”, afirmou o professor Giuliano Locosselli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP).
“Acredito que só conseguiremos resolver o problema da queda de árvores em São Paulo se houver um trabalho conjunto entre academia, governo e setor privado”, acrescentou.
“É preciso cuidar do manejo adequado, que começa no plantio, escolhendo a espécie, definindo o tamanho do canteiro onde vai ser plantado, fazendo o poda corretamente”, complementou a professora da área de fisiologia vegetal Aline Andréia Cavalari, da Universidade Federal de São Paulo Paulo (Unifesp), primeiro autor do trabalho.
Cavalari se refere ao Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU), lançado em 2020 para melhorar o manejo e criar um sistema de gestão participativa das árvores em São Paulo. Com prazo de duas décadas e revisado a cada cinco anos, o plano tem 170 ações previstas, entre elas um inventário arbóreo.
Segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da prefeitura, 42 ações do plano estão em andamento.
Desafio
Locosselli registra o desafio de manejar mais de 650 mil árvores em São Paulo e destaca que já há um conhecimento acumulado sobre os indivíduos arbóreos, o manejo e as técnicas de manutenção.
“O que falta agora é uma visão holística sobre a arborização da cidade como um todo, com um plano de manejo que permita melhoria, monitoramento e acompanhamento continuado para ter uma arborização verde e saudável, proporcionando o máximo de serviços ecossistêmicos e reduzindo ao mínimo os prejuízos com as quedas de árvore. A importância das pesquisas é trazer diretrizes holísticas que contribuem com esse avanço”, afirma.
O grupo do qual o pesquisador faz parte publicou outros dois estudos entre 2021 e 2022 sobre a arborização em São Paulo. Um deles aponta que a altura dos prédios no entorno, a idade do bairro e a altura da árvore são os fatores que mais influenciam e aumentam o risco de queda.
Para isso, foram analisados 26.616 registros em 96 distritos da capital durante oito anos. Entre 2013 e 2021, a cidade perdeu cerca de 4% das 652 mil árvores existentes na área urbana.
O outro trabalho mostrou evidências de que as quedas de árvores em estações secas estão ligadas à falta de manejo e de condições adequadas para a sobrevivência do vegetação de rua.
Critérios
A base de informações da pesquisa incluiu dados coletados por agricultores em oito bairros da regional da Sé, entre janeiro de 2016 e novembro de 2018, sob a coordenação da própria prefeitura.
Há informações sobre dados de queda, características do local, espécie de árvore, tipo de falha, estado da madeira, condição da cor da raiz, conflitos com a linha aérea e sinais de poda.
São 59 espécies, das quais 38 tiveram até quatro ocorrências e 21 com cinco ou mais. Os pesquisadores explicaram que não chegaram a fazer uma divisão por espécie porque só dispunham do número absoluto, sem levantamento que permitisse uma avaliação proporcional.
Dos 456 casos analisados, 46% concentraram-se na queda de galhos e ramificações, 33% da raiz e 21% do tronco. As quedas de galhos contrastaram com estudos anteriores, onde predominavam problemas em troncos e raiz. No entanto, os pesquisadores apontam que isso pode estar ligado ao fato de que só recentemente esse item passou a ser considerado como um problema potencial.
Fazendo um cruzamento de dados com o uso de inteligência artificial, o grupo chegou a três fatores preditivos – estado da madeira, constrições do colo da raiz e poda.
Para o estado da madeira, foram levados em consideração: destruição por fungos; presença de insetos que se alimentam de madeira (xilófagos), como brocas e cupins; além de cavidades no tronco. A partir daí, as árvores foram divididas em saúde; baixa manipulação (sinais avançados de flexibilidade, como descoloração ou mudança de cor) e alta manipulação (sinais avançados de flexibilidade e alterações na textura e estrutura, com ocasionais graves).
Em relação ao colo da raiz a avaliação incluiu possíveis estrangulamentos decorrentes de solo compactado, do pavimento e de caixas, normalmente de cimento, elevados em volta da árvore. Já para as podas foram comprovados quatro tipos – elevação (usada para dar espaço aos pedestres), redução (que diminui a altura da árvore), forma de V (para aumentar a distância entre galhos e cabos de energia) e topping (redução significativa do número de ramos grossos), sendo essas duas últimas consideradas as mais drásticas.
A maioria das árvores que perderam árvores não apresentaram sinais claros de manipulação da madeira, enquanto mais de 40% dos “indivíduos arbóreos” apresentam problemas do tronco ou da raiz apresentaram sinais de baixa ou alta manipulação. Cerca de 14% dos eventos de queda da raiz e 11% de tronco tiveram sinais de constrição.
(Com informações da Agência Fapesp)
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