Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru e esposa do ex-presidente Ollanta Humala, obteve asilo no Brasil nesta quarta-feira (16), após ser condenada, juntamente com seu marido, a 15 anos de prisão por suposta lavagem de dinheiro.
A acusação alega que Heredia e Humala receberam fundos ilícitos da construtora brasileira Odebrecht e da administração do ex-líder venezuelano Hugo Chávez para financiar as campanhas eleitorais de Humala em 2006 e 2011.
Heredia, que desembarcou em Brasília nesta manhã, foi representante legal e presidente do Partido Nacionalista Peruano, fundado por ela e Humala em 2005.
Nascida em Lima, a ex-primeira-dama, de 49 anos, estudou comunicação social no Peru e obteve doutorado em ciências políticas na Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris.
Segundo a revista “Cosas”, em entrevista concedida durante seu período como primeira-dama e presidente do Partido Nacionalista, ela e Humala se casaram em 1999, três anos após se conhecerem. Na época, Humala atuava como militar e viajava com frequência.
Relatórios indicam que Heredia é prima da mãe de Humala, tornando-a tia de segundo grau do marido. Após um encontro casual, Humala a contatou, iniciando um relacionamento.
Mãe de três filhos com Humala, incluindo o mais novo, menor de idade, que também obteve asilo diplomático no Brasil, Heredia gerou controvérsia na política peruana durante seu período como primeira-dama, devido a seu protagonismo e suposta influência sobre o governo do marido.
Em 2011, ela obteve 64,2% de aprovação, o maior índice entre os membros da equipe de Humala. Ativa em eventos e viagens do marido, ela também aparecia em atos oficiais sem ele, acompanhada apenas de ministros. Uma pesquisa da época a classificou como a terceira pessoa mais poderosa do país.
Naquele mesmo ano, vazamentos do WikiLeaks revelaram que o então embaixador dos EUA em Lima, Michael McKinley, afirmou que Heredia era chamada de “o cérebro político radical por trás de Humala”.
Em 2015, com Humala ainda na presidência, Heredia começou a ser investigada por uma comissão do Congresso por suspeitas de corrupção envolvendo o ex-assessor do governo, Martín Belaunde. Havia suspeitas de que ela teria usado sua influência para favorecer empresas ligadas a Belaunde em contratos com o Estado. Na época, também havia suspeitas de que Belaunde teria recebido recursos do governo chavista para financiar a campanha de Humala.
Meses após Humala deixar o poder no Peru, em 2016, Heredia foi nomeada diretora do escritório de ligação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em Genebra.
O Ministério das Relações Exteriores do governo de Pedro Pablo Kuczynski (PPK), sucessor de Humala, protestou contra a decisão, atribuindo-a ao então diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.
“A nomeação não responde a nenhuma gestão do governo peruano”, expressou uma nota da Chancelaria peruana, que afirmou ter expressado seu “desagrado” pela “decisão que pode ser interpretada como uma interferência”.
O governo de PPK pediu que o Brasil reconsiderasse a decisão. Heredia acabou renunciando ao cargo.
Os promotores acusaram Humala e Heredia, e o Partido Nacionalista de Humala, de receber US$ 3 milhões em fundos ilícitos da Odebrecht para financiar a campanha de Humala em 2011. Eles argumentaram que o casal poderia fugir ou obstruir a investigação.