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Moradores relatam invasões da polícia e trabalhavam em casas à venda após operação no Guarujá

A Operação Escudo, realizada pela Polícia Militar de São Paulo, tem sido avaliada como bem-sucedida pelo governo estadual, mas os relatos de moradores que residem e trabalham nas comunidades divergem dessa perspectiva.

Diversas habitações foram esperas e os que não têm para onde ir relatam se sentirem presos dentro das próprias casas.

VÍDEO – Operação Escudo: Mais de 70% dos presos cometeram crimes sem violência ou ameaça

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A CNN esteve na Comunidade Morrinhos, no Guarujá, e falou com moradores que estão deixando tudo para trás com medo de morrer.

Diversos barracos, construídos com materiais resistentes, estão abandonados.

  • “Eu só não saio porque não tenho para onde ir. Se não, iria embora também, porque tenho muito medo. Nunca vi uma coisa dessas na minha vida”, explica uma das poucas moradoras que seguem no local.
  • “Eu saí com meu marido e meu filho por causa da polícia. Eles acham que todo mundo que mora aqui dentro é tráfico, e não é. A gente mora aqui dentro porque a gente não tem condição de pagar um aluguel. A gente mora aqui porque precisa. Não é porque quer”, conta outra moradora.

O governo de São Paulo se manifestou sobre os relatos dos moradores e disse que “nenhuma denúncia referente aos casos citados pela reportagem foi apresentação às corregedorias, que estão à disposição para formalizar e apurar os fatos”.

O Ministério Público Estadual informou que cinco promotores foram designados pela Procuradoria-Geral de Justiça para apurar todos os fatos relativos à Operação Escudo.

Moradias chegou a ser invadida durante operação no Guarujá
Moradias chegou a ser invadida durante operação em Guarujá / Arquivo Pessoal

invasão de casas

A saída às imprensas foi relatada por ao menos cinco famílias. Os moradores contam que, por mais de uma vez, a polícia invadiu casas durante a madrugada e encontrou famílias dormindo. Outras pessoas explicaram que tiveram casas reviradas enquanto estavam no trabalho.

Os barracos são colocados à venda por até R$ 20 mil.

O valor varia de acordo com as características de construção e da vida ocupada:

  • quanto mais próximo da entrada da comunidade, onde ainda há resquícios de ruas asfaltadas, mais alto o valor.
  • quanto mais próximo da margem do rio, onde as ruas são de barro, o valor é mais baixo.

“Coloquei placa na minha casa para vender e eu ir pra longe daqui. Sinto que estou no inferno”. É o que diz Marlene (nome fictício), que vive na comunidade há pelo menos 27 anos. Ela explica que decidiu se mudar e que colocou a casa à venda para ir para longe.

Questionada sobre a rua dela ser uma das mais vazias da comunidade, ela conta que quem saiu tinha medo de morrer. “Eles abandonaram a casa com medo de morrer. De vez em quando, vem alguém aí só pra limpar e vai embora. Pra mim, aqui é um lugar muito perigoso. Aqui é um lugar apavorante”, diz.

Uma idosa, que se diz evangélica e que vive com cerca de R$ 300 da pensão por invalidez que recebe do governo (parte do valor está comprometida com um empréstimo feito), relata que, em uma das noites, teve a casa invadida pela PM .

“Os sentados olhando pra gente deitados. Foi Deus que me acordou. Abra o olho. Levei um susto e eles me olhando. E eu quis saber o que estava voando”, conta.

Enquanto não consegue vender a casa, ela sonha com uma vida melhor, mas teme que a vida seja interrompida. “Às vezes, eu penso que, se eu morasse num lugar melhor, poderia não me mudar agora. Mas penso… com tudo isso que está transitório e eu morando aqui, [posso] até perder a vida…”, finaliza.

Falei para a minha pátria: não consigo ir, estou com medo. E ela falou para eu ficar com medo porque já tinha vencido outra

A agonia de quem não tem para onde ir e acaba ficando presa na comunidade também foi relatada pelos moradores. Uma empregada doméstica, que preferiu não ter o nome revelado, explica que perdeu o emprego, uma vez que ficou dentro de casa por quatro dias com medo de sair.

Ela diz que foi demitida, mas que prefere assim, já que pelo menos pode ficar em casa cuidando da filha e da neta e protegê-las no caso de mais uma incursão da polícia.

“Eu já não estava saindo de casa com medo. Depois das mortes, aí que não saí mais, mesmo. Meu medo é sair e deixar minha filha e minha neta sozinha”, conta.

VÍDEO – Policiais usaram câmeras em 7 das 16 mortes

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O que dizem o MP e o governo

A CNNo Ministério Público Estadual disse que, por causa da Operação Escudo, foram instaurados:

  • 16 Procedimentos Investigatórios Criminais (PICs) na esfera penal destinada a apurar como as mortes aconteceram
  • um Procedimento Administrativo de Acompanhamento (PAA) sobre a investigação acerca de todas as ocorrências
  • e um Inquérito Civil (IC) a respeito do cometimento de atos que eventualmente podem ser caracterizados como lesivos aos Direitos Humanos.

Já o governo paulista disse que, “desde o dia 23 de junho, houve o reforço do policiamento ostensivo e preventivo pela PM na região” e que a Operação Escudo foi criada “com intuito de conter o crime organizado na região e restabelecer a segurança para uma população local”.

Fonte

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