Às vésperas do 40º aniversário de redemocratização da Argentinametade dos participantes no país diz não se importar com a chegada ao poder de um governo autoritário, desde que resolve os problemas nacionais, segundo pesquisa feita pela Poliarquía Consultores obtida pela CNN.
O índice de liberdade de um governo não democrático, mas que entregou resultados, chega a 67% dos participantes com educação primária e a 56% entre aqueles da faixa etária de 18 a 29 anos. A pesquisa reuniu 1.000 entrevistados, entre 25 de setembro e 6 de outubro, em grandes centros urbanos do país vizinho.
Os argentinos vão às urnas neste domingo (22) para o primeiro turno das eleições presidenciais, que tem o economista Javier Milei como favorito. Apresentando-se como “outsider” na política e “anarcocapitalista”, ele defende bandeiras como a dolarização da economia e a eliminação do Banco Central.
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Milei também é um favor da tributação da saúde pública e da facilitação do acesso às armas. Ele critica a educação sexual nas escolas, relativiza crimes de lesa-humanidade, acordos pela ditadura militar (1976-1983) e já saiu em defesa da liberação do comércio de órgãos humanos.
Para Daniel Zovatto, diretor regional para a América Latina e Caribe do Instituto para a Democracia e a Assistência Eleitoral (Idea), não há uma acessibilidade generalizada do que ele chama de “autoritarismo seco”, mas sim condicionado à entrega de “resultados”.
“Tampouco é uma facilidade do autoritarismo tradicional, via golpe de Estado por militares. Mas de um novo tipo de autoritarismo competitivo que, mesmo chegando ao poder via eleições mais ou menos competitivas, atua para erodir a democracia gradualmente desde dentro”, disse Zovatto à CNN.
A pesquisa pediu aos entrevistados que reagissem à seguinte afirmação: “Não me importa que um governo não democrático chegue ao poder se ele resolver os problemas das pessoas”. Metade respondeu estar de acordo (35% de acordo e 15% muito de acordo). Outros 49% disseram não estar de acordo (35% em desacordo e 14% muito em desacordo).
Enquanto isso, é forte o sentimento de desesperança. Quando se pergunta aos argentinos como acreditam que a situação do país daqui a um ano prevalecerá, o pessimismo prevalece: 40% dizem que, pior, 27% veem melhoria e 20% acreditam que tudo ficará igual. Os demais não responderam.
Zovatto, que participou do lançamento da pesquisa em Buenos Aires, vê uma característica de “bukelização” da política argentina.
Trata-se de uma referência ao governo de direita radical do presidente Nayib Bukele, de El Salvador, um dos mais populares da América Latina e que adota postura linha dura no combate ao crime.
“Em resumo: na sociedade argentina há demanda, tolerância ou facilidade para uma liderança autoritária sempre e quando ela dá resultados [na percepção dos cidadãos]”, afirma Zovatto. “Isso explica o alto nível de apoio eleitoral que Milei teve nas primárias e que pode ter novamente neste domingo”.
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