Na visita que começa nesta quarta-feira (20), o rei Charles e o presidente francês, Emmanuel Macron, correm o risco de mostrar o que estão próximos entre si, porém, distantes dos cidadãos de suas respectivas nações.
Até sexta-feira (22), Charles e a rainha consorte Camilla fazem sua primeira visita de Estado à França. A Monarca e Macron pretendem fazer do encontro uma demonstração dos laços profundos entre os países, mesmo após o Brexit.
VÍDEO – Macron escolhe encontro com rei Charles e não vai à ONU
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Agenda de pompa
Uma visita de três dias será cercada de pompa. Entre os vários compromissos, o casal real vai iniciar na quarta-feira depositando flores no Arco do Triunfo, com direito à exibição de acrobacias das forças aéreas de duas nações.
À noite, Charles e Camilla participaram de um banquete no palácio de Versalhes. No cardápio, lagosta azul, aves francesas de Bresse e uma seleção de queijos franceses e ingleses.
Ainda em Paris, na quinta-feira, o rei verá as obras de restauração da catedral de Notre-Dame após o grande incêndio de 2019 que destruiu parte da igreja de 850 anos.
E para encerrar o passeio, na sexta-feira, os monarcas viajaram para Bordeaux para conhecer uma vinícola orgânica, o Château Smith Haut Lafitte, pioneiro em uma abordagem sustentável para produzir vinhos.
As pautas girarão em torno do combate às mudanças climáticas, do fortalecimento da relação bilateral entre os países e até de questões de segurança, relacionadas à Guerra na Ucrânia. Mas sem expectativas de qualquer medida concreta e relevante, o encontro é mais para um “apéro” (apertivo) francês para inglês ver.
Clima de Faltava
A visita foi inicialmente marcada para março, mas foi adiada por causa da falta de clima para ostentação diante dos protestos contra a reforma da Previdência, que agitaram a França no início do ano.
Mas com o país imerso em uma crise no setor de educação — após pesquisa apontou que faltam professores em 48% das escolas de ensino médio e fundamental —, e luta contra a inflação alta, à medida que as críticas sobre a falta de “timing” continuam.
“Além de não ir à Assembleia da ONU, Macron recebe um rei, que é uma figura que não tem poder de decisão. Há hoje uma controvérsia entre os franceses, que enxergam a visita como um encontro entre uma elite desconectada dos problemas do povo”, observa Thomás de Barros, pesquisador de ciências políticas da Sciences Po.
O jantar no suntuoso Salão de Espelhos de Versalhes é sugestivo porque remonta ao paralelo idealizador do palácio, Luís XIV, o “Rei Sol”, um dos maiores representantes do absolutismo francês.
Barros lembra que os chefes de Estado devem discutir os recentes golpes militares no Níger e no Sudão e a perda de influência francesa na região africana do Sahel.
“São chefes de Estado de antigas potências coloniais, que ainda têm muito interesse e presença na África. Eles falam em nome da democracia, mas representam domínios europeus neocoloniais”, analisa o pesquisador da Sciences Po.
Impopulares
Além das críticas sobre a desconexão entre a opulência do encontro e os desafios que França e Inglaterra enfrentam em suas economias — a OCDE afirmou nesta semana que o Reino Unido deverá ter uma maior inflação entre os países ricos em 2023, de 7,2% — , há uma percepção de que o encontro reúne duas personalidades impopulares.
Macron forçou a aprovação de uma reforma das reformas em abril, rejeitada por 70% da população. A medida levou a população a protestar nas ruas a chamá-lo de arrogante e comparar o presidente francês a Luís XIV.
Charles, por sua vez, é frequentemente criticado pela falta de carisma, em contraste com a mãe dele, a rainha Elizabeth, que morreu em setembro de 2022.
O rei inglês fala francês fluentemente, como a mãe, e deve mencionar o afeto da rainha pela França durante uma visita, mas nada que empolgue muito os franceses, principalmente os mais jovens.
“Não importa se ele vem ou não”, disse a jovem de Alexia Aubert, de 15 anos, à agência Reuters. “Acho que desde que Elizabeth morreu, a família real não é tão importante quanto era, o rei Charles não é tão importante e simbólico quanto Elizabeth”.
VÍDEO – Ao virar garrafa de cerveja, Macron incentiva “masculinidade tóxica”?
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