Do navio à doceria Nascido em 1936 em São Paulo, ABílio dos Santos Diniz transformou a doceria da família em um dos maiores negócios do Brasil, o Grupo Pão de Açúcar.
Ó empresário, que morreu neste domingo (19), vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite, teve uma trajetória extensa, marcada pelo empreendedorismo e pela determinação. Nos últimos anos, ele também comandou programas na CNN, onde recebemos empresários, políticos e nomes importantes da sociedade civil para discutir e compensar os caminhos do desenvolvimento econômico e social de nosso país.
Relembre momentos da história de Abílio Diniz:
Do navio à doceria
O pai de Abílio, Valentim Diniz, chegou ao Brasil, vindo de Portugal, em 1929. No Rio de Janeiro, se maravilhou com os pontos turísticos da então capital brasileira – em especial, o Pão de Açúcar, na Urca.
Valentim, que logo depois se casou com Floripes Diniz, foi caixeiro e entregador de um supermercado. Em 1949, inaugurava a doceria “Pão de Açúcar”.
Abílio foi o mais velho de seis irmãos e começou a trabalhar ajudando o pai no empreendimento, crescendo no bairro do Paraíso, em São Paulo.


O Grupo Pão
Após se formar na segunda turma de administração de empresas da recém-criada FGV, Fundação Getúlio Vargas, Abílio planeja trabalhar em uma multinacional ou seguir carreira no exterior, onde realizaria o sonho de se tornar professor.
A veia empreendedora, no entanto, falou mais alto: o pai de Abilio fez a proposta de abrir um supermercado. Foi inaugurado então o primeiro supermercado Pão de Açúcar, em 1959, nas proximidades da doceria dos pais. O negócio deu tão certo que, em dez anos, a rede já contava com quarenta unidades e mais de 1.600 funcionários.

Nos anos 1990, uma disputa familiar pelo controle do Grupo Pão Açúcar quase levou o grupo à falência. Mas os irmãos, em acordo, decidiram passar o comando a Abílio, que decidiu abrir o capital do grupo da Bolsa de Valores.
Anos depois, em 1999, Abílio acertou a sociedade com a rede francesa Casino. Foram 54 anos de história na companhia. Abílio saiu do “GPA” em 2013.
Muito além dos supermercados
Após sair definitivamente do Grupo Pão de Açúcar, Abílio assumiu a presidência do Conselho de Administração da BRF. Mas o DNA empreendedor não parou por aí.
Em 2014, a empresa de investimentos Península Participações, de Abílio, adquiriu participação acionária do Carrefour Brasil, eventualmente tornando Abílio Diniz o segundo maior investidor do Carrefour global e membro do conselho de administração da empresa.

Dedicação à sociedade brasileira
Além de capitanear uma das maiores empresas brasileiras, Abílio teve destaque na política do país: entre 1979 e 1989, foi membro do Conselho Monetário Nacional. Também auxiliou na articulação da campanha de Tancredo Neves, em 1984.


Abílio circulou no meio político e nas altas cúpulas do empresariado brasileiro e internacional. Buscou trazer a visão empreendedora e a esperança no progresso da sociedade.
Paixão pelos esportes
Ainda na infância, Abilio encontrou a paixão pelos esportes, praticou judô, boxe, capoeira… Abílio foi triatleta e um exemplo na prática de atividades físicas, principalmente na terceira idade.


Abílio levou o esporte como uma prioridade na vida, um hábito que passava aos filhos. Junto deles, fundou o NAR (Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo).
Já nos últimos anos de vida, Abílio criou a meta de disputar um torneio mundial de squash após os 90 anos de idade.
Eu sempre fui um esportista, eu sempre fui um atleta. E não é que isso seja um sacrifício pra mim
Abílio Diniz


Uma grande família
Abílio Diniz teve seis filhos, dezoito netos, além de bisnetos. O filho caçula, Miguel, nasceu em 2009, quando o empresário tinha 72 anos.

Diniz se casou duas vezes. Em seu primeiro relacionamento, com Auriluce, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Pedro Paulo e Adriana. Já com Geyze, com quem se casou em 2004, vieram Rafaela e Miguel.



Tragédias pessoais
Em 1989, Abílio Diniz vivia uma experiência traumática. Foi sequestrado quando foi para o escritório. O pedido de resgate foi de 30 milhões de dólares. Pistas deixados pelos sequestradores, levaram a polícia até uma casa no Jabaquara, zona sul de São Paulo, onde o empresário estava preso em um cubículo construído. Depois de horas de negociações, Abílio Diniz foi libertado. Foram sete dias em cativeiro.

Outro momento traumático, foi a morte do filho João Paulo Diniz aos 58 anos, de ataque cardíaco.
Eu digo sempre para as pessoas. veem as glórias que eu tenho, que eu conquisto, mas não vêem os tombos que eu levo. esse foi um tombo. esse foi um tombo. eu nunca poderia imaginar que o João pudesse ir antes de mim. ele era meu melhor amigo. meu companheiro. meu companheiro de esportes, de tud
Abílio Diniz

Renovação
Abílio Diniz gostava de compartilhar suas experiências e impactar pessoas.
Publicou dois livros que logo se tornaram best-sellers, “Abílio Diniz – Caminhos e Escolhas” (2004) e “Novos caminhos, novas escolhas” (2016), publicados no ano em que completou 80 anos.
Depois, foi uma vez de dividir as experiências no TED Talk “Comecei a fazer 80 anos com 29”, que já teve mais de 1,3 milhões de visualizações no YouTube.
Apaixonado por gestão, criou em 2010 o curso Liderança 360° na Fundação Getúlio Vargas, onde já era professor há 14 anos.
Inquieto e sempre disposto a refletir sobre os rumores do Brasil, se tornou apresentador na CNN. Foram dois programas de entrevistas. No primeiro deles, “Olhares Brasileiros” (2022), Abilio conversou com personalidades de vários setores sobre o país em um ano de eleição.
Na sequência, conversamos em um novo programa com grandes nomes da política e com os maiores empresários brasileiros. Foram três temporadas de “Caminhos com Abílio Diniz” (2023).
De entrevistador a entrevistado
Em dezembro de 2023, em uma edição especial de seu programa de entrevistas, na CNN Brasil, Abilio Diniz trocou de posição. Assumiu o lugar de entrevistado e abriu a vida pessoal para as âncoras Márcio Gomes e Elisa Veeck, além de falar dos caminhos para o progresso e o desenvolvimento do Brasil.
Abílio Diniz contorno sobre longevidade, liderança, gestão empresarial, a perda do filho, João Paulo, entre outros temas.
Na edição, quando questionado sobre o legado que ele pretendia deixar, após a sua passagem, ele apontou:
Eu amo minha vida. Eu amo aquilo que eu faço. Quando eu morrer, eu não quero aquela turma dizendo “Coitado”… Põe a música do Gonzaguinha… “Viver é não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar alegria de ser um eterno aprendiz” que eu sou”
Abílio Diniz
*As imagens utilizadas nesta reportagem foram retiradas das redes sociais de Abílio Diniz e da obra “Novos Caminhos, Novas Escolhas, de Abílio Diniz (Editora Objetiva, 2016). Todas as imagens são do acervo pessoal do empresário.
*Publicado por Bruno Chiarioni, Mylene Guerra e Letícia Brito
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