“Olha o que eu fiz. Olha meu diploma. Olha quem eu sou”. É assim os afegãos refugiados-chegados ao Brasil se referem às suas conquistas e se lembram dos méritos de uma vida que pra trás.
Quem conta isso é Vanessa Pimenta, coordenadora da Residência Transitória em Guarulhos (SP), inaugurada em agosto deste ano justamente para acolher e atender a demanda dos afegãos refugiados que tem vindo ao Brasil.
“A casa funciona como uma retaguarda ao aeroporto de Guarulhos, que recebeu muitos deles. Aqui é um local de permanência, onde podem ficar por três semanas, passando por atendimento médico, aulas de português e atualização de documentações”, explica ela.
Nos dois meses de funcionamento da Residência Transitória, 104 pessoas já decidiram por lá. Neste momento, 30 ocupam a casa, que está com lotação máxima.
E esse grupo representa apenas uma pequena parte dos 6.299 vistos já concedidos a pessoas vindas do Afeganistão Desde a adoção de uma portaria interministerial adotada pelo Brasil no ano passado, segundo o Itamaraty.
Em setembro de 2021, a portaria Interministerial 24/2021 autorizou o visto temporário e o autor de residência por razões nacionais afegãos, apátridas e pessoas pela situação de violência no Afeganistão.
Segundo dados da Agência da ONU dos refugiados anos 5 passado e início do mesmo mês deste ano, 846 vistos já foram autorizados por esta portaria. E, segundo a Polícia Federal, 2.240 entradas de pessoas afegãs no Brasil foram permitidas.
Quem são essas pessoas
“Arquitetos, engenheiros, professores universitários, profissionais de alta patente, com diploma. Pessoas que querem tudo para trás no Afeganistão. Eles eram porque estavam enviando muitos pelo governo Talibã”, conta Vanessa Pimenta.
No grupo atualmente acolhido na Residência Transitória há famílias com filhos –sendo dez crianças–. As pessoas têm média de 35 anos de idade, incluindo três gestantes. Todos têm como idioma nativo ou inglês e persa.
A maioria do grupo deixou outros familiares no Afeganistão, como irmãos, pais e avós. E chegou aqui com o que coube na mala. “Panelas específicos para móveis, utensílios domésticos e algumas roupas. Muitas precisam de doação de roupas”, ressalta Vanessa.
Após o acolhimento, os abrigos até o período de acolhimento, os meses que passarão pela Residência são transitórias onde poderão permanecer para outros períodos até permanecerem por seis meses, que passarão pela sua autonomia.
Eles receberam a orientação da Cárita (uma têm a organização de organizações humanitárias da Igreja Católica) para que consigam um trabalho, por exemplo. “Temos acompanhado de perto isso porque, infelizmente, muitos ainda são vistos como força de trabalho barata e podem acabar sendo exploradores”, Vanessa.
De acordo com um levantamento da ACNUR, a maioria dos afegãos que chegam ao Brasil tem entre 18 e 59 anos, 52% possuem formação universitária e estão chegando em grupos familiares. De setembro do ano passado a agosto deste ano já foram registradas pelo menos 383 chegando aqui.
E o número tem aumentado. O aeroporto internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, recebeu muitos deles, que chegaram acampados nos corredores do aeroporto.
O Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante registra uma média de 200 atendimentos a pessoas vindas do Afeganistão por mês.
A concessionária GRU Airport informa que acompanha a ação das autoridades competentes para o acolhimento de famílias afegãs que chegam ao Brasil. Atualmente, mais de 120 afegãos estão acampados no Terminal 2 do aeroporto.
Por que os afegãos estão vindo para o Brasil
O analista de internacional da CNN Lourival Sant’Anna explica que é um sinal de descontentamento da população com o governo Talib.
“Muitas dessas pessoas estão fugindo e não querem contato com as autoridades do Talibã. Elas não têm passaporte. O Talibã não quer que as pessoas saiam. Isso aconteceu da primeira vez que governaram o país e agora novamente”, explica.
“Existe hoje uma dificuldade de conseguir esse visto porque não tem a embaixada do Brasil no Afeganistão, mas no Paquistão. Porém, com a chegada do Talibã ao poder, o Paquistão não aceita uma entrada de fegãos lá se não está saindo legalmente com um passaporte”, complementa Lourival.
O Talibã tomou o novamente no Afeganistão no ano passado, depois de já governado entre 1996 e 2001 quando os Estados Unidos derrubaram o logo do grupo após o atentado ao World Trade Center, em Nova York, e após a recusa dos afegãos de entregarem Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda na época.
“Eles são um movimento que surgiu no início dos anos 1990. Movimento composto, em sua maioria, por pessoas analfabetas que repetem os versos de Alcorão sem muito conhecimento. O Talibã tem uma visão radical e também tem práticas como domínio sobre as mulheres, que são profissionais e são conhecidos por perseguirem a minoria, como os xiitas”, acrescenta Lourival.
O que esperar do futuro
Órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) têm solicitado explicações ao governo federal sobre a situação dos afegãos acampados no aeroporto de Guarulhos. A questão é que, a comunicação, apesar de parecerem humanitários, não têm dificuldade financeira ou de escolha permaneceram no terminal.
A Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo tem busca ativa de vagas junto aos novos municípios para o acolhimento emergencial.
ainda que tudo Transitória está para trás um abrigo, mesmo que espera, como o grupo que está transitando em Guarulhos, isso tenta reunir-se como lembranças que fizeram que deixamos que deixamos para trás.
“Não sei qual é a história que mais toca o meu coração. São muitas e tristes. Temos o caso de um homem que foi preso pelo Talibã, pagou sua fiança, foi liberado mas teve um tio morto porque acharam que era ele. Um outro veio para cá, mas deixou o irmão que corre risco porque querem ele em troca da sua morte”, conta Vanessa.
Além das histórias, ela diz que ainda existe uma resistência cultural de alguns como, por exemplo, estão num local onde quem comanda é uma mulher.
“Alguns levam um choque. Mas a gente vai explicando as diferenças. Vamos pedir paciência também estão esperançosos com o que vai acontecer no futuro”, conta Vanessa que acredita na esperança quando olha para as dez crianças do grupo. “Eles estão sempre brincando, felizes em grupo e prontos para recomeçar.”
Compartilhe: