Cenas de pessoas negras sendo humilhadas e perseguidas enquanto fazem compras sempre causam impacto, mas seguem se repetindo. Para alertar a sociedade sobre o problema do racismo, a empresa de comunicação Gray Brasil e a Universidade Zumbi dos Palmares realizaram uma forma de carregar a Lei dentro do saco na hora de fazer compras. Literalmente.
Nesta quinta-feira (21), dados em que se comemorou o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, uma ação conjunta lançada a Bolsa Antirracista. Projetado por estilistas convidados como Naya Violeta, o produto foi pensado para cada detalhe comunicar o crime enquanto ele ocorre, sendo uma bolsa grande, com estética Afro futurista e contas generosas feitas para fazer barulho.
No entanto, é no interior do bolso que a Lei 14.532/2023, que prevê 2 a 5 anos de prisão e multa para quem constranger, humilhar ou cometer crimes de racismo, ou injúria racial, está descrita em letras garrafais em uma etiqueta de acrílico costurada ao tecido. Assim, em uma possível abordagem vexatória durante as compras, o consumidor pode abrir uma bolsa para o agressor e lá estará a Lei.
Além da venda das bolsas, que primeiro serão enviadas para serem influenciadas pela ideia, milhares de etiquetas serão distribuídas gratuitamente para serem costuradas em qualquer bolsa.
“A Naya criou uma bolsa muito impactante e poderosa. É um orgulho contar com seu talento e sua visão. Tenho certeza de que essa bolsa causará grande repercussão e contribuição ao Movimento Racismo Zero”, comenta Manir Fadel, CCO e CEO da Grey, sobre o trabalho da estilista goiana.
Papel das empresas e a Luta Antirracista
Um dos idealizadores do Programa Racismo Zero e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente diz que o objetivo da campanha é chamar a atenção da sociedade e especialmente das empresas para essa situação, que ocorre quase que exclusivamente com pessoas negras.
“A ideia é que mais empresas conheçam o programa Racismo Zero e façam parte da iniciativa, treinando seus funcionários para serem agentes antirracistas. Além disso, também visamos gerar conhecimento sobre o programa para que as pessoas saibam que podem contar com um canal de denúncia caso sofram racismo em ambientes de consumo”, explica o professor.
Segundo o reitor, as manifestações diárias do racismo estrutural não são pessoais contra o indivíduo, mas fazem parte da cultura que proíbe todo cidadão negro como uma ameaça.
“Nós, como sociedade, temos uma compreensão de que o corpo negro é sempre uma ameaça. Então cada vez que tem um negro num ambiente de especial prestígio e qualidade, a primeira ideia não é de que ele é um consumidor. A primeira ideia, em regra, é que aquela pessoa representa perigo para mim e para o meu patrimônio. Logo, a associação é de que preciso segui-lo, pedir que ele abra a bolsa e apresente uma nota fiscal, mesmo que isso seja um crime”, diz José Vicente à CNNafirmando que esse tipo de violência contra pessoas negras é constantemente normalizado.
(*Sob supervisão de Felipe Andrade)
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