Ministros da Defesa europeus destacaram nesta sexta-feira (12) que a paz está fora de alcance para a Ucrânia devido à contínua agressão do presidente russo Vladimir Putin, mesmo enquanto os Estados Unidos avançavam com conversas bilaterais.
Um alto funcionário do governo Trump, Steve Witkoff, reuniu-se nesta sexta-feira com Putin, apertando a mão do russo no início do encontro.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, Putin e Witkoff estavam programados para discutir a situação da Ucrânia. A reunião terminou às 22h no horário de Moscou (16h no horário de Brasília), de acordo com a mídia estatal russa TASS.
Peskov havia se referido à reunião como “uma boa oportunidade” para transmitir a postura russa a Trump.
Um possível encontro entre os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos também pode estar na pauta, segundo a agência estatal RIA Novosti, que citou declarações de Peskov.
“O trabalho meticuloso continua. Naturalmente, Witkoff, como representante especial do presidente Trump, trará algo de seu presidente para Putin. Putin ouvirá. Uma conversa sobre vários assuntos.”
Witkoff, que é o enviado especial de Trump para assuntos externos, também se reuniu nesta sexta-feira com o negociador russo Kirill Dmitriev em São Petersburgo, segundo a RIA Novosti. Dmitriev descreveu posteriormente as discussões como “produtivas” em uma postagem na rede X.
“Rússia é a Única Responsável por Esta Guerra”
As reuniões dos EUA na Rússia ocorreram enquanto os principais aliados da Ucrânia se reuniam nesta sexta-feira em Bruxelas.
Os ministros da Defesa do Reino Unido e da Alemanha enfatizaram que Putin continua sua agressão contra alvos militares e civis, apesar de afirmar que deseja a paz.
O Grupo de Contato para a Defesa da Ucrânia, coorganizado pelo Reino Unido e pela Alemanha, teve uma ausência notável à mesa: o Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth.
O grupo, composto por cerca de 50 nações, foi criado pelo ex-secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, durante o governo Biden, e se reúne regularmente para discutir o reforço do apoio militar a Kyiv.
“Dada a contínua agressão da Rússia contra a Ucrânia, infelizmente admitimos que a paz na Ucrânia parece fora de alcance no futuro imediato”, disse o Ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, em uma coletiva de imprensa conjunta com seus homólogos ucraniano e britânico.
“Garantiremos que a Ucrânia continue se beneficiando do nosso apoio militar conjunto. A Rússia precisa entender que a Ucrânia é capaz de continuar lutando, e nós a apoiaremos”, acrescentou Pistorius.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky também fez uma participação virtual, na qual alertou que o último mês deixou “completamente claro” que “a Rússia é a única responsável pela guerra”.
Ele fez referência explícita à recusa de Putin em aceitar um cessar-fogo proposto pelos EUA em março. “Sem força contra a Rússia, não haverá vontade por parte da Rússia de aceitar e implementar qualquer proposta realista e eficaz de paz”, afirmou.
O secretário de Defesa do Reino Unido, John Healey, também destacou que “hoje faz exatamente um mês desde que a Rússia rejeitou o acordo de paz proposto pelo presidente Trump”.
“Putin diz que quer paz, mas se rejeita um cessar-fogo total, suas palavras soam vazias.”
A reunião de sexta-feira marca a primeira vez que um alto funcionário do Pentágono não participa presencialmente desde que o grupo foi criado em 2022, poucos meses após a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia. Isso ocorre em meio a uma série de mudanças de política da administração Trump que vêm sendo interpretadas como uma aproximação com Moscou.
O encontro aconteceu enquanto o enviado de Trump para a Ucrânia sugeriu que Kyiv teria que ceder seus territórios orientais para alcançar um acordo de paz com Moscou — uma declaração que provavelmente causará preocupação entre os aliados ocidentais e os líderes ucranianos.
O general Keith Kellogg, ex-conselheiro de segurança nacional, afirmou que a Ucrânia poderia ser dividida “como Berlim após a Segunda Guerra Mundial”, em entrevista ao jornal The Hill.
Segundo ele, tropas britânicas e francesas poderiam assumir zonas de controle no oeste da Ucrânia como parte de uma “força de garantia”, enquanto tropas russas ocupariam o leste. As forças de Kyiv ficariam posicionadas na área intermediária, junto a uma zona desmilitarizada, acrescentou.
Em uma postagem na rede X, Kellogg posteriormente afirmou que estava se referindo a possíveis “zonas de responsabilidade para uma força aliada”, e não à partição da Ucrânia, além de enfatizar que a ideia não previa a presença de tropas americanas em solo ucraniano.
Witkoff, outro assessor sênior de Trump, tem defendido a visão de que a Ucrânia precisaria abrir mão das quatro regiões — Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson — para que a guerra chegue ao fim, sinalizando uma mudança impressionante na política em relação à administração anterior.
“Uma Questão de Prioridades”
O Ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, disse antes da reunião em Bruxelas que a decisão da administração Trump de participar virtualmente era um sinal de suas prioridades.
“Não é uma questão de prioridades. Acho que é uma questão de agenda”, acrescentou Pistorius.
Antes da reunião, o ministro da defesa britânico ofereceu palavras firmes de apoio à Ucrânia e defendeu colocar “ainda mais pressão sobre Putin”.
“Nossa missão é colocar a Ucrânia na posição mais forte possível para proteger sua soberania e dissuadir futuras agressões russas”, disse Healey em comunicado.
Novas promessas de ajuda militar anunciadas após a reunião de sexta-feira somam mais de € 21 bilhões (cerca de US$ 23,8 bilhões), anunciou Healey, chamando o valor de “um recorde”.
A Alemanha fornecerá mais € 11 bilhões (US$ 12,5 bilhões) em apoio militar à Ucrânia até 2029, incluindo sistemas móveis de defesa aérea Iris-T e mísseis, segundo o ministro da defesa alemão.
O Reino Unido e a Noruega também vão oferecer em conjunto um adicional de US$ 589 milhões em ajuda militar, para manutenção de veículos, sistemas de radar, minas antitanque e centenas de milhares de cartuchos de munição.
A defesa aérea é uma prioridade de Kyiv, afirmou Zelensky antes do encontro.
“Precisamos apenas resolver a escassez de sistemas de defesa aérea para tornar a proteção do nosso céu mais forte”, disse Zelensky.
“Nossos parceiros podem ajudar também a acelerar a implementação de todos os acordos firmados anteriormente.”
Zelensky afirmou no início desta semana que a Rússia está “preparando” uma nova ofensiva, enquanto a CNN informou que o exército russo intensificou suas operações ao longo da linha de frente nas últimas semanas.
O chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, disse à mídia ucraniana na quinta-feira que a Rússia “já começou” sua nova ofensiva contra as regiões de Sumy e Kharkiv.
Enquanto isso, um novo relatório da ONU revelou nesta semana que a Ucrânia registrou um aumento significativo nas baixas civis causadas por ataques russos em março.
O número de vítimas civis foi 50% maior do que no mês anterior, com pelo menos 164 pessoas mortas e 910 feridas em março, segundo a Missão de Monitoramento de Direitos Humanos da ONU na Ucrânia.