Brics5.jpg

expansão dos Brics fortalece posição da China dentro e fora do bloco

A expansão dos Brics foi uma vitória da China, que passa a ter uma posição ainda mais forte dentro do bloco e em sua projeção de poder global.

Segunda maior economia do planeta e às voltas com sérias disputas geopolíticas com os Estados Unidos, a China pretende utilizar os vários ressentimentos do bloco ampliado contra o mundo desenvolvido para rivalizar iniciativas do G7, o grupo das grandes e ricas democracias.

VÍDEO – Etiópia é o sexto país convidado para entrar no Brics

data-youtube-width=”500px” data-youtube-height=”281px” data-youtube-ui=”internacional” data-youtube-play=”” data-youtube-mute=”0″ data-youtube-id= “r_Lhvzh0RE8”

Os Brics passam a ser, com a entrada da Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, um grupo com 36% do PIB mundial, ultrapassando o G7.

Pouco interessa aos chineses que os países da lista estejam quebrados ou sejam ditaduras – como ela própria. O respeito aos direitos humanos nunca foi um pré-requisito para o bloco.

A maior parte desse número econômico impressionante vem direto da forte economia chinesa. Num grupo ampliado, o seu poder interno passa a ser ainda maior, já que a posição dos outros membros fica bem mais pulverizada.

Antagonizando os americanos

Cercada de países rivais na Ásia, a China não tinha, antes dos Brics ampliados, um grupo para chamar de seu.

Certamente aproveitará todas as oportunidades possíveis para antagonizar os americanos em disputas globais e regionais, onde agora se alinhou formalmente com vários players importantes – especialmente no Oriente Médio.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a declarar, em Joanesburgo, onde os líderes se reuniram para decidir pela expansão, que os Brics não pretendem entrar em disputas com o G7, o G20 ou os Estados Unidos.

Mas o governo brasileiro sabe que o grupo ampliado será usado pelos chineses.

Um diplomata chegou a brincar com o aumento do poder interno da China no grupo, lembrando que se trata de um país que “faz parte do G2, e com pretensões de ser o G1”. Uma observação para lá de pragmática.

O interesse em fortalecer sua posição dentro e fora dos Brics foi a razão que levou o governo comunista de Pequim a pressionar outros membros originários a aceitar a expansão.

Em determinado momento, os chineses defenderam a entrada de todos os 22 países que se candidataram ao bloco – o que deixaria uma lista ainda mais bizarra, com nomes como Bielorrússia, Venezuela e Cuba.

Apoio da Rússia e África

A Rússia, cada vez mais dependente da própria China e em busca desesperada por amigos desde o início da guerra na Ucrânia, foi a primeira a votar pela ampliação.

Mais fraco dos países originários e com uma economia combalida, a África do Sul apostou também no bilhete chinês, grande parceiro comercial, e votou a favor. Conseguiu levar para o grupo a Etiópia, outro representante da África subsaariana e o membro mais pobre do bloco ampliado.

Resistência do Brasil e da Índia

Índia e Brasil, as duas maiores democracias do bloco, resistiram mais e optaram, ao menos, que a expansão fosse mais moderada e seguindo “alguns critérios” – que nunca ficaram claros.

Grande rival regional da China e com várias disputas diretas na fronteira, a Índia talvez seja o país em posição mais estranha dentro dos Brics.

Na formação do grupo, na primeira década do século, Nova Délhi acreditava que, dentro dos Brics, a Rússia poderia ajudá-la a conter os chineses de alguma forma.

Desde então, a Rússia se enfraqueceu e a Índia tornou-se cada vez mais forte economicamente. Hoje, tenta se colocar como beneficiária da disputa entre Pequim e Washington – atraindo, por exemplo, investimentos de fábricas americanas que estão saindo da China.

Com enorme população (que ultrapassou a China este ano) e uma economia em crescimento, a Índia vai apostar cada vez numa diplomacia multidimensional e não homologada.

VÍDEO – Retrocedemos à “mentalidade obsoleta” da Guerra Fria, diz Lula nos Brics

data-youtube-width=”500px” data-youtube-height=”281px” data-youtube-ui=”internacional” data-youtube-play=”” data-youtube-mute=”0″ data-youtube-id= “pIYep39SNWo”

Diálogos e influência

Em posição mais fraca, o Brasil vai tentar seguir a mesma linha de independência, buscando fortalecer também o diálogo com os Estados Unidos e a União Europeia, ao mesmo tempo em que procura ampliar sua influência na América Latina e na África.

Para deixar isso claro, o presidente Lula fez seu discurso inicial na Cúpula de Líderes dos Brics para levantar o tema da guerra da Ucrânia, lembrando que o Brasil tem uma longa tradição de condenar publicamente a integridade territorial de qualquer país.

A menção à guerra não agradou chinês e, obviamente, russa. Mas foi cuidadoso o suficiente para evitar criticar Moscou diretamente.

Esse malabarismo é um exemplo do caminho pedregoso nessa estratégia pela independência —mas que, de fato, parece ser o melhor resultado.

Fonte

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *