O publicitário Ricardo Silvestre abriu, literalmente, as portas do seu maior lugar de segurança para contar um pouco da sua potente trajetória no mercado publicitário.
“O lar, sem dúvida, é um dos lugares mais seguros que a gente tem na vida, onde nós participamos ser, de fato, quem nós somos. É esse lugar de segurança que me traz esse abraço para o lugar onde eu posso estar e ser exatamente quem eu sou, longe de qualquer perigo”, diz ele que sempre buscou a segurança em meio a tantas adversidades que o atravessaram.
Homem, preto e gay, Silvestre – que chegou até a lista Forbes Under 30 – tem hoje consciência do seu papel e da sua voz.
“É muito importante que as pessoas tenham voz própria, e que essas vozes sejam ouvidas. Vozes de homens pretos, de pretos gays são ouvidas de um outro lugar, porque elas sempre são muito carregadas desse lugar de reclusão, de repressão.
A gente cresce o tempo todo se reprimindo, deixando algumas coisas não aparecerem ou não florescerem, simplesmente porque você não pode, você precisa mostrar que você é forte o tempo todo”
Cria de periferia, Ricardo Silvestre conta que o seu ponto de partida foram as dificuldades. Dificuldades que ele sentia, inclusive, no mundo da publicidade onde trabalhava em grandes agências, mas sempre sendo o único negro no ambiente.
“Eu era uma pessoa desconectada. Eu não tinha assunto para trocar com a maior parte das pessoas que se reuniam ali. Eles sempre perceberam que havia essa desconexão, mas nunca foi uma questão fazer com que eu participasse da conversa. Eu sempre preciso lutar muito para aparecer em algumas situações”, disse.
“Eu não tinha repertório suficiente para trocar com essas pessoas e, quando eu penso hoje, também abraçou o contrário, né? Elas não tinham um repertório suficiente para trocar comigo, porque elas viviam ali dentro de uma bolha de pessoas”, acrescentou.
E foi justamente dessa desconexão – que chegou a lhe render um burnout por excesso de trabalho e por não se sentir incluído – que o criador criou a Black Influence, agência especializada em influenciadores e criadores negros.
“A negra nasceu dessa necessidade pessoal e também social. Nasceu para fazer parte desse processo de transformação do mercado publicitário e para fazer com que pessoas pretas, como eu, tenham as suas vozes um pouco mais ouvidas e as suas histórias contadas a partir das narrativas certas”, conta o CEO da agência.
Para Silvestre, a mudança no mercado publicitário está ocorrendo, mas a passos muito lentos porque ainda falta intencionalidade e interesse genuíno de fazer parte desta transformação.
Fazer uma comunicação antirracista é o propósito de Ricardo Silvestre. “Essa comunicação é feita principalmente por meio de oportunidades. É através das oportunidades que empresas pretas têm a chance de escrever suas próprias histórias”, afirma.
Histórias como a dele que já chegaram até a lista da Forbes Under 30.
“O que me levou até a lista, sem dúvida, foram a coragem, a persistência e a inovação. Pessoas pretas naturalmente são inovadoras, pessoas que estão na periferia naturalmente são inovadoras porque elas precisam criar o tempo todo soluções para seguirem vivendo, para viverem na sociedade. Então, a gente já sai de casa inovadora em muitos aspectos”, comenta.
Inovação que era um sonho de criança do publicitário que ‘queria ser grande’. Ele conta que queria fazer coisas que de alguma forma mudassem a vida das pessoas.
“Eu quero influenciar principalmente os jovens pretos. A galera que está na escola e que quer chegar longe e dizer que sim, é possível. Fazer pessoas pretas, pessoas da periferia se sentirem representadas”, declara.
Filho de uma empregada doméstica e caçula de três irmãos, Ricardo Silvestre cresceu flertando com a escassez de recursos.
“Sempre que eu estou aqui em casa, como a gente está agora, eu penso no lugar de onde eu vim e na falta de acesso, na falta de conforto…” Falta que hoje virou abundância e, coincidências da vida, o cometido hoje mora na mesma rua do hospital que nasceu.
Detalhe que só foi notado pela mãe dele, quando o filho se mudou para o novo apartamento. Um detalhe importante e ancestral que talvez o símbolo africano Sankofa explique: “é preciso retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”. E isso, Ricardo Silvestre está fazendo muito bem.
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